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Unemat realiza aula inaugural do primeiro Mestrado Indígena do Centro-Oeste do País
MARCO HISTÓRICO
Unemat realiza aula inaugural do primeiro Mestrado Indígena do Centro-Oeste do País
07/02/2020 18:59:34
por Nataniel Zanferrari
Foto por: Moisés Bandeira
O coordenador do PPGecii, Adailton Alves, apresentando os alunos da primeira turma de Mestrado Profissional Indígena
O coordenador do PPGecii, Adailton Alves, apresentando os alunos da primeira turma de Mestrado Profissional Indígena

Um marco na história da Universidade do Estado de Mato Grosso (Unemat) ocorreu nesta sexta-feira, 7 de fevereiro: a aula inaugural do primeiro mestrado indígena do Centro-Oeste do País, ofertado pelo Programa de Pós-Graduação em Ensino em Contexto Indígena Intercultural (PPGecii) da Unemat.

Tendo início às 14 horas no Auditório Professor Júlio César Geraldo, no Câmpus da Unemat em Barra do Bugres, a aula inaugural foi composta de duas palestras: ‘Garantia dos valores culturais na educação indígena: direitos das crianças e dos adolescentes indígenas no processo de educação’, ministrada pela promotora de Justiça do Estado de Mato Grosso, Maria Coeli Pessoa de Lima, e ‘A cultura em relação com o uni-diverso’, ministrada pelo doutor em Educação e professor da Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT), Luiz Augusto Passos. A discussão após as duas palestras foi mediada por Maria Helena Fialho, ex-coordenadora de Educação Escolar Indígena da Fundação Nacional do Índio (Funai). Também houve uma apresentação do povo Xavante.

De acordo com o reitor da Unemat, Rodrigo Bruno Zanin, este é o resultado de um processo iniciado anos atrás e que contou com a colaboração de inúmeras pessoas. “A Universidade está, mais uma vez, mostrando seus resultados e sua potencialidade não só para as populações indígenas, mas para a população mato-grossense como um todo”, contou Rodrigo.

A mestranda Nilce Zonizokemairo é graduada pela Faindi e atua como professora indígena há 26 anos. Agora Nilce procura aprofundar ainda mais seus conhecimentos. “É uma honra estar de volta na Unemat para me aprimorar e buscar sempre melhorar a educação das aldeias”, disse a professora.

Graduado em Licenciatura Intercultural Indígena com Habilitação em Ciências da Natureza e Matemática, Edivaldo Lourival Mampuche dá aulas em aldeias indígenas há 14 anos e, agora, é um dos 20 mestrandos do PPGeci. “Esta é uma oportunidade de adquirir o conhecimento e poder ajudar melhor a minha comunidade lá na escola”, explica Edivaldo. “Eu acredito que a escola pode fazer muita diferença em definir aquilo que a comunidade indígena precisa, e não as demandas que vêm de fora”, afirma o mestrando.

Ofertado pela Faculdade Indígena Intercultural (Faindi), o PPGecii da Unemat é o primeiro mestrado indígena da Região Centro-Oeste do Brasil, bem como um dos primeiros do País.

O coordenador do PPGecii, Adailton Alves da Silva, afirma que toda a luta para a aprovação do PPGecii valeu a pena. “Este é um desafio muito grande para a Universidade, mas vamos aprender neste caminho do aprender, junto com os indígenas”, disse Adailton.

“A aprovação deste programa é uma política educacional importantíssima da Universidade e uma forma de fortalecer a Faindi”, explica a diretora da Faindi, Mônica Cidele da Cruz.

O Mestrado conta com uma diversidade de povos indígenas: são 20 mestrandos de 11 etnias diferentes, classificados de um total de 96 inscritos. A primeira turma de mestrandos conta com índios das etnias Bororo, Chiquitano, Ikipeng, Manoki, Munduruku, Pareci, Surui, Tapirapé, Terena, Umutina e Xavante.

A prova de seleção foi realizada no último dia 20 de outubro. O processo de seleção também contou com as etapas de arguição do projeto de pesquisa e análise de currículo. Com 360 horas-aula e duração de 14 a 24 meses, o programa funciona na modalidade presencial, com a oferta de disciplinas em módulos no câmpus da Unemat em Barra do Bugres. O curso tem a área de concentração em Ensino, com as linhas de pesquisa ‘Ensino e linguagens em contexto intercultural’ e ‘Ensino, docência e interculturalidade’.

Com uma proposta diferenciada, a capacitação de professores em nível de Mestrado Profissional, tem como meta proporcionar empoderamento aos docentes indígenas de valores pedagógicos agregados aos etnoconhecimentos, com vistas ao enriquecimento e à eficácia das práticas profissionais nas escolas das aldeias.

Desde a Constituição Federal de 1988, há um empoderamento etnopolítico das comunidades indígenas e dos professores indígenas em fazer com que a educação escolar seja ressignificada com os sistemas próprios de aprendizagem. Em conformidade com a CF e toda história em educação indígena da Unemat, o curso pretende atender docentes indígenas para que possam desenvolver atividades de pesquisas em ensino junto à Educação Básica e projetos de formação de professores indígenas implantados no Estado e em outras regiões do país.

Além do reitor e do coordenador do Programa, participaram da mesa de autoridades a vice-reitora, Nilce Maria da Silva; o pró-reitor de Pesquisa e Pós-Graduação, Anderson Fernandes de Miranda; o diretor político-pedagógico e financeiro, Fernando Selleri Silva; o cacique da aldeia Umutina, Lucimar Calomizoré; o presidente do Conselho Estadual de Educação Escolar Indígena, Filadelfo de Oliveira Neto; e o representante dos alunos no conselho do PPGecii, Marcelo Manhunari Munduruku.

 

Os palestrantes

Maria Coeli Pessoa de Lima é promotora de Justiça na 1ª Promotoria de Justiça Cível da Comarca de Diamantino e mestra em Gestão Estratégica das Organizações pela Faculdade de Estudos Administrativos de Minas Gerais (Fead).

Luiz Augusto Passos é doutor em Educação pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP), mestre em Educação pela Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT) e graduado em  Filosofia pela Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras Nossa Senhora Medianeira (Fasp), atual Universidade Bandeirante de São Paulo (Uniban). Atualmente é professor na UFMT e membro do Grupo de Pesquisa em Movimentos Sociais e Educação.

Maria Helena Fialho é mestre em Desenvolvimento Sustentável junto a Povos e Terras Indígenas pela Universidade de Brasília (UnB), especialista em Línguas Indígenas Brasileiras pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e graduada em Letras pela Unemat. Maria Helena é servidora aposentada da Funai, atuando em Educação Escolar Indígena desde 1985. Foi professora por mais de 10 anos em escola indígena na Aldeia Santa Isabel do Morro, em Ilha do Bananal, no Tocantins, e esteve à frente da então Coordenação Geral de Educação (CGE) da Funai de 2000 a 2010.

 

Faculdade Indígena Intercultural

A Unemat foi pioneira no atendimento às populações indígenas em cursos superiores específicos e diferenciados, ofertados desde 2001. A instituição também se tornou referência no Brasil e na América Latina na condução intercultural de uma proposta pedagógica de ensino diferenciado e de valorização étnica. Nesse percurso de quase duas décadas, a formação de professores indígenas em nível de graduação já é uma prática consolidada na Unemat. Desde o início da oferta de Educação Escolar para indígenas, a Unemat já formou 450 professores e especializou 140 deles.

Atualmente, a Faculdade oferece os cursos de Pedagogia Intercultural Indígena e de Licenciatura Intercultural Indígena. A Faindi está ligada ao Câmpus Universitário Deputado Renê Barbour, no município de Barra do Bugres. Além destes cursos, especificamente destinados aos povos indígenas, eles podem fazer qualquer outro curso na Instituição, e ainda se beneficiar do sistema de cotas. “A Universidade estabeleceu institucionalmente, a partir de 2016, uma cota de 5% das vagas de cada curso da Unemat para os alunos indígenas”, recordou a vice-reitora Nilce Maria da Silva.

A Instituição prima pela oferta de cursos com articulação entre movimento indígena, discussões de território dos povos indígenas, valorização da identidade e da cultura e promove diálogos interculturais entre diferentes conhecimentos, saberes, valores e princípios dos povos originários do Brasil.

A Faindi busca atender a todas as demandas educacionais por meio de projetos específicos e diferenciados, elaborados, implementados e avaliados por todos os segmentos envolvidos com a educação escolar indígena pautadas nas diretrizes da política nacional de educação escolar indígena que defende a escola indígena específica, diferenciada, bilíngue e intercultural pautada pelo respeito às diversidades e aos processos pedagógicos próprios.

A Unemat já atendeu alunos das etnias Apiaká, Aweti, Bakairi, Baniwa, Baré, Bororo, Chiquitano, Cinta Larga, Ikpeng, Irantxe, Juruna, Kaingang, Kalapalo, Kalapalo, Kamaiurá, Karajá, Kaxinawa, Kayabi, Kuikuro, Matipu, Matipu, Mebêngokrê, Meninako, Munduruku, Myky, Nafukwá, Nambikwara, Paraná, Paresi, Pataxó, Potyguara, Rikbaktsa, Suruí, Suyá, Tapayuna, Tapeba, Tapirapé, Terêna, Ticuna, Trumai, Tukano, Tuxá, Umutina, Waurá, Xavante, Yawalapiti, e Zoró.

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